Envie sua contribuição para luisabenjamim@gmail.com, ou omeganya@gmail.com
Textos:
Princesa Aqualtune
Os Lanceiros Negros e a Batalha de Porongos
A Revolta dos Malês
Luísa Mahin
Começa, então, ao lado de Ganga Zumba, seu filho a organização de um Estado negro, que abrangia povoados distintos confederados sob a direção suprema de um chefe. Dois de seus filhos, Ganga Zumba e Gana Zona tornaram-se chefes dos mocambos mais importantes do quilombo. Aqualtune também teve filhas, a mais velha, que se chamava Sabina, deu-lhe um neto, nascido quando Palmares se preparava para mais um ataque holandês. Por isso, os negros cantaram e rezaram muito aos deuses, pedindo que o Sobrinho de Ganga Zumba, e, portanto, seu herdeiro, crescesse forte. E para sensibilizar o deus da guerra, deram-lhe o nome de ZUMBI.
A criança cresceu livre e passou sua infância ao lado de seu irmão mais novo chamado Andalaquituche, em pescarias, caçadas, brincadeiras, ao longo dos caminhos camuflados, que ligavam os mocambos entre si. Garoto ainda, Zumbi conhecia Palmares inteiro. Passam-se os anos e Palmares torna-se cada vez mais uma potência. Mais de 50.000 habitantes livres, distribuídos em vários mocambos. Zumbi cresce e se casa com Dandara.
A população negra agrupada no Quilombo dos Palmares resistiu por quase 1 século aos ataques brancos e as mulheres tinham aí um papel fundamental, que envolvia coragem, espírito de luta e de resistência aos colonizadores.
Os Lanceiros Negros e a Batalha de Porongos
Os Lanceiros Negros
Eram assim chamados os negros escravizados e libertos, que foram alistados ao exército farroupilha com a promessa de ganharem sua liberdade, quando não forçados a ingressarem na guerra por seus “senhores”.
Esses lanceiros negros eram geralmente postos na linha de frente das batalhas.
No final da dita revolução, os lideres farroupilhas, sem terem como cumprir com as promessas de liberdade, e sem um real interesse para isso, já que afinal eram em grande maioria grandes estancieiros escravagistas, colaboraram com um grande massacre que ficou conhecido como a Batalha dos Porongos.
A Batalha dos Porongos
Em novembro de 1844, os lanceiros negros, acampados no cerro de Porongos e liderados por David Canabarro, foram atacados por forças sob o comando de Francisco Pedro de Abreu (das forças imperiais). O corpo dos lanceiros negros, cerca de 100 homens desarmados, tentaram resistir ao ataque, mas foram quase todos mortos.
A matança teria sido combinada com Canabarro para exterminar os integrantes, por medo que os lanceiros formassem bandos após o término da guerra, o que já estava sendo tratado. A questão da abolição da escravatura, uma das condições exigidas pelos farroupilhas para a paz, entravava as negociações. A libertação definitiva dos ex-escravos combatentes, precipitaria um movimento abolicionista no resto do império, e a mão de obra escrava vinha mantendo a produção agrícola desde os tempos coloniais.
Foi mencionada na época uma carta do Barão de Caxias instruindo Francisco Pedro de Abreu a atacar o corpo de lanceiros negros e afirmando que tal situação teria sido previamente combinada com Canabarro.
Independente das interpretações que possam surgir sobre esse evento, o fato que não deixa dúvidas, é que foi um grande massacre de negros que, esperançosos, contavam com sua tão almejada liberdade, pela qual lutaram em uma guerra de seus “senhores”, por uma causa que não era a sua.
A Revolta dos Malês
Ocorreu em 1835, na cidade de Salvador. Organizada por africanos muçulmanos, foi a maior revolta de escravos urbanos das Américas.
Quem Eram os Malês
Segundo Pierre Verger, o termo male está associado a imalê (derivado de mali) expressão Ioruba para islã ou muçulmano. Os Malês eram todos os africanos muçulmanos, que poderiam ser das mais variadas etnias. Eles vinham dos belicosos reinos da África ocidental, hoje Nigéria, eram as civilizações mais desenvolvidas da África com tecnologia comparável à da Europa medieval e totalmente integrados às rotas de comércio que uniam a África Ocidental. Eram Orubás (Nagôs), Jejes, Haussás, etc. Não eram unificados na África, mas desenvolveram identidades comuns no Brasil.
Os muçulmanos africanos se encontravam em várias partes dos Brasil, mas eles se concentram mais na Bahia principalmente entre fins do século XVIII e início do XIX. Porém nem todos os africanos islamizados da Bahia participaram da revolta, como no caso dos Haussás que tiveram pouca participação, mas eram considerados mais islamizados que os próprios Nagôs, que tiveram papel predominante na revolta. Essa participação limitada dos Haussás se deve provavelmente por terem sido perseguidos ferozmente devido a suas participações nas revoltas de 1807 e 1816.
Religião
Havia uma religiosidade plural na Bahia, o islã não era uma força hegemônica entre os africanos, havia o culto dos orixás Nagôs, o vodun dos jejes, o culto aos espíritos ancestrais dos angolanos e o catolicismo criolo. O islamismo por não ser uma religião de origem étnica tinha o potencial de unir vários grupos de origens diversas, retirando dos escravistas a vantagem política da divisão entre os africanos.
O islã, como outras expressões religiosas africanas subvertiam a ordem simbólica existente. Ele propunha uma revolução nas vidas de seus seguidores, impregnando-os de dignidade e formando novas personalidades.
Expressando sua religiosidade os Malês usavam durante os seus rituais e durante o levante o abada (camisolão branco). No dia-a-dia, identificavam-se através do uso de anéis de metal branco e amuletos sagrados com passagens do Alcorão.
Devido à importância da religião na revolta Nina Rodrigues defende a tese da Jihãd, de que a Revolta dos Malês foi uma guerra religiosa, opinião contraria de João José dos Reis onde a dimensão étnica do movimento foi tão ou mais forte do que a religiosa.
A Organização
Graças ao ambiente menos sufocante da escravidão urbana na Bahia, os Malês conseguiram criar uma organização rebelde bem planejada e concisa, a maioria eram escravos de ganho que tinham uma política de juntar dinheiro para alforrias.
Havia uma rede clandestina de propaganda islâmica que unia escravos que já tinham vindo da África como muçulmanos a outros convertidos no Brasil e aos africanos adeptos de outras religiões. Eles se organizavam a partir de grupos que se reuniam secretamente para praticar a religião muçulmana, aprender a ler e escrever em árabe com membros cultos e letrados vindos da África e também angariar fundos para alforriar o maior número de africanos possível.
A Revolta
O cheiro de insurreição contra os impopulares regentes do país, que estava no poder enquanto D. Pedro II era menor, estava tão forte que o levante dos Malês explodiu no mesmo ano que a Revolução Farroupilha e a Cabanagem.
A data do levante 25 de janeiro foi Iana (dia de nossa Sra. Da Boa Guia) e também a comemoração do Ramadã. O objetivo por que lutavam era o fim da escravidão africana, mas há indícios de que queriam matar todos os brancos e brasileiros e constituir um reino.
O levante foi muito bem planejado, mas devido a denúncias não foi bem sucedido. Centenas de rebeldes percorreram as ruas por cerca de 3 horas, lutando com soldados e civis.
Tinham poucas armas e foram massacrados pelos soldados, resultando na morte de aproximadamente 80 rebeldes e 9 soldados e civis. Centenas de rebeldes foram condenados à prisão, à tortura e à deportação, quatro foram executados em praça pública para exemplo. Os líderes mais importantes da rebelião foram: Ahuna, Pacífico Hicutan, Sanim, Manoel Calafate e Dandara.
Houve uma intensa investigação após a revolta o que produziu mais de 300 interrogatórios, onde pode-se ouvir a voz do escravo.
Marcas da Revolta
A repressão foi tão forte na Bahia que ultrapassou suas fronteiras. Houve diversas medidas de controle dos escravos minas (vindos da costa ocidental da África) considerados rebeldes. Entre elas a deportação de centenas de africanos libertos para a África foi comum por dois anos seguidos a revolta na Bahia. Muitos escravos foram vendidos para outras províncias na tentativa de passar o problema adiante, o que ocasionou a criação de leis no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul proibindo a importação desses escravos da Bahia.
O medo de um movimento como o do Haiti, onde entre 1791 e 1804 uma revolta escrava havia destruído a escravidão e criado uma nação governada por negros espalhou-se entre os senhores. A elite se aproveitou dessa situação para estender um maior controle também aos negros livres e libertos.
Houve uma sacudida nas mentes que pensavam a escravidão embora esta estivesse sólida ainda. Assim como as políticas de controle aumentaram também as discussões sobre o fim do tráfico e mesmo da escravidão, por parte de homens como José Bonifácio e outros, devido aos perigos para a classe dominante de uma revolta escrava no Brasil.
O medo das rebeliões servis parece ter influenciado profundamente a história política senhorial. A própria unidade nacional brasileira só é possível de ser entendida a partir do receio das classes dominantes regionais de lançando-se na luta contra o centralismo imperial, pôr em perigo a existência da escravidão.
“O medo foi uma conseqüência nada desprezível que a revolta de 1835 conseguiu fincar por muito tempo na mente senhorial” João José Reis.
Texto de: J. Wolkmer - jwolkmer@yahoo.com.br
Luísa Mahin
Africana nascida em Costa Mina, na África, veio para a Bahia, no Brasil, como escrava e se tornou líder da Revolta dos Malês (1835). Pertencia à nação nagô-jeje, da tribo Mahin, daí seu sobrenome, nação originária do Golfo do Benin, noroeste africano que no final do século XVIII foi dominada pelos muçulmanos, vindos do Oriente Médio. Tornou-se livre em 1812. Todas as revoltas e levantes escravos que abalaram a Bahia nas primeiras décadas do século XIX foram articulados por ela, em sua casa, que tornou-se quartel general destes levantes. Luísa era quituteira e passava mensagens escritas em árabe para outros rebeldes, através de meninos que fingiam comprar produtos em seu tabuleiro de vendas e levarem os bilhetes aos outros articuladores. Foi uma das articuladoras da Revolta dos Malês em 1835. Ficou conhecida pela valentia e insubmissão. Foi articuladora também da Sabinada em 1837/38. Descoberta, é perseguida e consegue fugir para o Rio de Janeiro onde foi encontrada, presa e degredada para a África, Angola. No entanto, nenhum documento foi encontrado lá em Angola, comprovando seu degredo. Acredita-se que ela tenha fugido e instalado-se no Maranhão, onde depois o tambor de crioula foi desenvolvido e parece que houve sua ajuda para tal. Deixa um filho aqui no Brasil, fruto da união com um português, que mais tarde vende o próprio filho com 10 anos para pagar uma dívida de jogo. Recusado em uma fazenda em Campinas por ser baiano, e os baianos tinham fama de rebeldes, ele é arrematado por uma fazenda em Lorena, interior paulista. Este menino cresce e sete anos mais tarde é alfabetizado por um hóspede da fazenda, aprende a ler e escrever, com os documentos que provam sua alforria foge para um quilombo perto de Lorena e torna-se poeta abolicionista, jornalista importante para o Brasil. Autodidata cursa Direito conseguindo através da maçonaria autorização para advogar, consegue libertar 500 escravos. Seu nome, Luiz Gama.
Fontes: portalcapoeira.com/capoeiramulheres/index.php/option/content/task/view/id/29 e dec.ufcg.edu.br/biografias/LuiMahin.html