A Imperatriz Menen é o exemplo máximo para as Mulheres Rastafaris, pois
ela é o exemplo a ser seguido por aquelas mulheres que buscam serem Rainhas de
acordo com os princípios e costumes originais/africanos.
Imperatriz Menen Asfaw
nasceu em 25 de março de 1883, na Etiópia. Assim como Haile Selassie, é
descendente da antiga linhagem Real Salomônica Etíope, através de Menelik 1º,
filho da Rainha Makeda de Sabá com o Rei Salomão. Além disso, também descende
da linhagem dos nobres Etíopes Muçulmanos. Mas sua religião professada era a
predominante na Etiópia, a Fé Cristã Ortodoxa.
Como uma mulher pertencente a uma dinastia nobre, teve
uma educação destinada aos filhos e filhas dos antigos Senhores e Duques,
recebendo um instrutor em
casa. Teve uma boa educação de leitura e escrita de sua
língua nativa. Além da educação acadêmica que recebeu, aprendeu a tradição
etíope de tecer, e economia do lar.
Em 1911, Menen casou-se
com Ras Tafari Makonnen. Em 02 de Novembro de 1930 assumiu o trono da Etiópia
ao Seu lado. Era costume na Etiópia que a Imperatriz fosse coroada três dias
após a coroação do Imperador. Ela não era considerada uma governante, mas
apenas esposa do Imperador. Além de não receber os procedimentos tradicionais
religiosos da Igreja, sendo coroada em casa pelo próprio Imperador de forma
simbólica. Como nos conta o próprio Imperador Haile Selassie (1999), no trecho
abaixo de Sua autobiografia, em Sua coroação, Eles mudaram esse protocolo.
“[...]
Sucessivamente o serviço de coroação da Imperatriz começou. O
procedimento para a entronização da Imperatriz é hoje muito
diferente do que costumava ser anteriormente. Segundo nosso estudo do histórico da prática inicial, a
Imperatriz não era ungida com o
óleo da realeza, alegando-se que ela não
compartilhava da regência com o Imperador.
A coroa, sendo meramente simbólica, era bem pequena. Era no palácio que o
Imperador colocava a coroa na cabeça dela, não na igreja. Isso
ocorria no terceiro dia, porque não
era permitido que ela fosse coroada
no mesmo dia que o Imperador. Mas
agora foi determinado, depois de
consulta, que o Arcebispo
deveria coroá-la e colocar o anel
de diamante em seu dedo, e isso deveria
acontecer juntamente com a coroação
do Imperador [...]” (SELASSIE, 1999)
Imperatriz Menen foi
coroada instantes após a coroação de Haile Selassie, recebendo as honrarias e
sendo ungida pelo Arcebispo da Igreja Ortodoxa. Dessa forma, Imperatriz Menen
assumiu política, religiosa e espiritualmente o trono Etíope, o governo da
Nação e a Cabeça da Igreja, lado a lado ao Imperador Haile Selassie. Foi
homenageada pelas lideranças de 72 nações, e recebeu ao lado do Imperador,
todos os títulos destinados a Ele na Coroação, sendo Eles Um só corpo.
Durante Seu governo,
Imperatriz Menen deu uma atenção especial à educação e à saúde, criando escolas
técnicas como a de artesanato “Tafari Makonnem” e a de enfermagem “Imperatriz
Menen”.
Ela lembrava em seus
discursos e ações que as mulheres não poderiam ser esquecidas no que se trata à
sua formação acadêmica. Apesar da época em que viveu, e da tradição
conservadora de sua nação, Imperatriz Menen sempre garantiu que as mulheres
tivessem iguais oportunidades de se graduar para não ficarem para traz com
relação aos homens. Ela sabia do potencial que poderiam atingir todas as jovens
mulheres que tivessem oportunidades de se graduar.
“[...] Sua
Majestade Imperial Rei dos Reis acredita que não há nada melhor para o desenvolvimento
do progresso do País, do que o desenvolvimento da educação. A este respeito, na
sua vontade, ele construiu muitas escolas para meninos. Mas se as meninas são
deixadas para trás, sem ter ensino regular, podem ter desvantagens [...]
Muitas jovens
têm a oportunidade de serem promovidas ao nível mais elevado de educação após
graduada nesta escola. Muitas delas estão trabalhando em escritórios do governo
e em organizações privadas. Se as jovens do meu país têm a chance de ter uma
educação culta, espero que elas possam contribuir muito, o que se espera delas
como de seus irmãos [...]” (ASFAW, 1957)
Assim como Maria veio para trazer a purificação de todas as Mulheres,
Imperatriz Menen veio mostrar o papel e a posição da Mulher no nosso tempo. Na época
em que a Imperatriz Menen foi coroada ao lado do Imperador Haile Selassie, as
mulheres eram tratadas como de segunda categoria, em posições subalternas, em
especial a Mulher Negra, até pouco tempo escravizada na maior parte do mundo, e
ainda em condições de trabalho subumanos, não muito diferentes das relações de
trabalho escravo. Além das relações de trabalho, as relações domésticas e
familiares não a favoreciam em sua dignidade e autonomia. Com relação ao acesso
à educação, poucas e raras eram as que acessavam algum nível de graduação
escolar. É nesse contexto social que a Imperatriz é corada como Rainha Negra
Africana e Soberana ao lado de Sua Majestade O Imperador, mostrando ao mundo o
local e a função que uma Mulher deveria assumir.
Sua presença como uma
Rainha Africana, nos remete ao princípio da Vida, sendo a África a origem da
Humanidade, e a Mulher Africana a Eva Negra, Mãe de toda a Humanidade. Sua
imagem relembra a todas as mulheres, em especial as mulheres Negras, sua
sacralidade e nobreza. Tendo o Ocidente embranquecido a Sagrada família de
Jesus e os Israelitas, emerge da Etiópia uma Santa Rainha Negra, da Linhagem de
Davi, defensora da Fé Cristã Ortodoxa.
Seu exemplo de vida é para
Homens e Mulheres Rastafaris na força feminina da Criação. A Mulher possui o
poder de gerar a vida, de criar e transformar. Conhecer sobre Imperatriz Menen,
para os Rastafaris, é perceber a importância do equilíbrio entre o feminino e o
masculino, sobre o respeito entre o homem e a mulher e suas funções e papéis
complementares. É também um forte exemplo de que a mulher não pode nem deve
jamais ser esquecida ou posta em segundo plano, como fazia a sociedade de sua
época e em grande parte, mesmo que de forma velada, ainda se faz nos dias de
hoje.
Mas independente das
modernizações e direitos adquiridos pela mulher moderna, Imperatriz Menen
ressalta a natureza da mulher que não muda nas diferenças históricas e
culturais, que é sua grande influência e poder educacional. Ela tem o poder de
influenciar e ensinar a todos à sua volta como filhos, sejam irmãos, amigos,
empregados, pais, etc. Mas é sua instrução, seu conhecimento e sua sabedoria
que resultará num efeito positivo ou negativo. Menen assim representa a força,
o poder, a influência da mulher sobre sua família, povo, nação, e a humanidade.
Durante a invasão da
Etiópia pela Itália em uma tentativa de colonização, Menen discursou pela paz
apelando às mulheres do mundo, pois todas as mulheres perdem com a guerra, tanto
do lado vencedor, quando do vencido. As mulheres, segundo ela, devem educar
seus homens (filhos, irmãos, esposos) de que a guerra não é boa, e devem
trabalhar incessantemente pela paz e o fim da guerra, principalmente se
ocuparem posições de liderança em suas nações. Enquanto os homens se
defrontavam em guerras políticas, ela apelava às mulheres mostrando que,
independente de qualquer coisa, a guerra deveria ser evitada. Mas, sobretudo,
ela apelava para que as mulheres percebessem sua força e influência em evitar
esses conflitos, como principais defensoras da paz, e principais vítimas da
guerra:
“[...] Embora
as mulheres do mundo estejam vivendo em diferentes países com diferenças climáticas,
todas as mulheres estão interligadas com o mesmo desejo e objetivos. Guerra é
angústia e um problema da humanidade. O ato da violência e a guerra vitimizam
maridos, irmãos e filhos de todas as mulheres do mundo de diferentes países,
diferentes raças, religião. Guerra é uma destruição de famílias e pode tornar povos
imigrantes. Então, mulheres são contra guerra. Nós sabemos que todas as mães
italianas e mulheres sem filhos podem se preocupar com a guerra, visto que a
guerra não é boa para nada. Portanto, todas as mulheres que se encontram no
mundo devem prevenir a guerra antes que ela traga problemas e angústia. Elas
devem colaborar com suas vozes e reclamar para evitar a guerra antes que venha
a carnificina em ambos os lados [...]” (ASFAW, 1936).
Nesse discurso apelativo,
no qual a Imperatriz rogou às Mulheres do mundo inteiro por União pela Paz, ela
nos chama a atenção para a importância da solidariedade feminina. Na
deseducação do sistema da babilônia, as mulheres se inserem em um esquema de
relações sociais e pessoais em que a disputa e a competição predominam. Nessas
relações, os preconceitos, diferenças e julgamentos são utilizados para
desqualificar, inferiorizar umas as outras, sejam em relações comuns do dia a
dia, até em contexto de relações internacionais entre culturas e nações
diferentes. Acima dessas limitações das relações femininas impostas pela
deseducação social, a Imperatriz Menen chama a atenção das Mulheres para o
poder que têm a União entre elas, o poder revolucionário, transformador e
construtor da solidariedade e lealdade entre as mulheres.
Após a vitória da Etiópia e a expulsão dos
italianos de seu território, Imperatriz Menen se dedicou à reconstrução da
Etiópia, tratando dos assuntos que diziam respeito diretamente ao povo,
visitando e ajudando na manutenção de hospitais, escolas e igrejas. Também
realizou um discurso mostrando ao povo a importância da independência, da
unidade e da liberdade para um povo, alertando para as estratégias da tentativa
de colonização:
“Todos vocês
sabem que esse país naturalmente verde e diferente de qualquer outro país
Africano, nunca foi colonizado e foi governado somente por seus próprios reis. Depois
de várias tentativas de colonização, a Itália propagandeou a guerra. Com essa campanha,
a Itália tentou acabar com nossa unidade e dividir nosso povo. Existe alguém
que não perdeu um parente durante a guerra? Alguns dos nossos cidadãos foram
mortos por enxadas, pás e metralhadoras. Deus permitiu que a Etiópia fosse rapidamente
vitoriosa sobre seu inimigo. Nós, os filhos dos cidadãos, sentimos orgulho
quando vemos nosso país liberto de qualquer tipo de agressão e nós somos muito
gratos ao Todo Poderoso. O povo etíope teve boas lições das experiências passadas,
que nos fazem cooperar da mesma maneira que um filho e uma mãe, que se amam
mutuamente. Foi isso que fez cada luta etíope pela independência e liberdade do
país. Vocês vêem que um povo sem liberdade é uma vítima; como foi visto nos cinco
anos de agressão. É verdade que nosso povo não odiava os governantes nativos,
desde que mantivessem a língua, costumes e tradição do povo. Mas os italianos
tentaram governar de maneira perversa. Durante a agressão, apesar do inimigo
matar nosso povo, patriotas foram para o campo de batalha e outros foram para o
exílio no exterior. Essa situação surpreendeu o mundo. Minhas senhoras e senhores
nativos de Wollo, fomos livres por 3000 anos. Contudo, através da ajuda da
Inglaterra e da intensa luta dos filhos da Etiópia, nós libertamos nosso país,
nossa bandeira e o Rei da nossa terra mãe. Nós precisamos ser únicos e unidos.”
(ASFAW, 1942)
Para as Mulheres
Rastafaris Imperatriz Menen representa a sua força, seu poder, sua alegria e
missão em ser Mulher.
Para os Homens Rastafaris Ela ensina como eles devem tratar
as mulheres, percebendo seu papel, suas necessidades e funções. Para ambos, ela
inspira o Amor, o respeito, a justiça, o correto a ser feito, independente de
ambições, progressos, etc. Sua vida ao lado do Imperador Haile Selassie mostra
como uma boa união de respeito e governo lado a lado pode sustentar uma família
e uma nação.
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